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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A irresponsabilidade de um, não pode condenar o suor sagrado de todos

Entre os dias 12/10/2011 e 13/10/2011, duas notícias “explosivas” ganharam o noticiário nacional. Uma delas aconteceu no Centro do Rio de Janeiro, quando um restaurante explodiu, deixando pelo menos três mortos e vários feridos. A outra notícia “explosiva” aconteceu – quase que simultaneamente – no porto de Suape-PE, onde foram apreendidos contêineres com lixo hospitalar dos USA, importados por um empresário cearense, cuja sede da empresa fica no polo de confecção do agreste pernambucano há 2 anos.

As imagens, tanto da explosão do restaurante, quanto do lixo hospitalar são assustadoras. Contudo, o que tem assustado a população do agreste pernambucano tem sido a forma generalizada como alguns estão tratando o caso. Milhares de trabalhadores, comerciantes, industriais e empreendedores estão sendo jogados na vala comum. Essa generalização deixa a impressão de que todos os produtores de confecção do polo pernambucano utilizam tecidos de lixo hospitalar na produção de roupas. O que não é verdade.

Com meio século de existência, a atividade confeccionista iniciada em Santa Cruz do Capibaribe e hoje espalhada por todo o agreste pernambucano, é ao mesmo tempo uma atividade cultural e econômica. É uma das mais exitosas experiências de desenvolvimento regional baseada no empreendedorismo. Porém, nada disso é capaz de impedir que empresários de outros estados venham para o agreste pernambucano manchar a imagem do polo com práticas criminosas.

O polo de confecção pernambucano é estruturado na micro e pequena empresa familiar. Tais empresas geram milhares de empregos, que por sua vez sustentam milhares de famílias em dezenas de cidades dos estados de Pernambuco e da Paraíba. É uma das atividades que mais e melhor gera emprego e distribui renda no nordeste brasileiro. Muito do que falo aqui pode ser comprovado na evolução do IDH das cidades que compõem o polo de confecção do agreste pernambucano.

Fazendo uma analogia com a explosão do restaurante no Centro do Rio de Janeiro, uma pergunta surge: será que porque um restaurante explodiu no Centro do Rio, todo restaurante no Centro do Rio de Janeiro pode ser considerado uma bomba relógio? Claro que não.

Da mesma forma que a prática irresponsável e criminosa de um único importador, não pode jamais condenar décadas de suor sagrado e limpo de milhares de trabalhadores e empreendedores de Santa Cruz do Capibaribe e do agreste pernambucano. A situação é muito séria e precisa ser tratada com mais seriedade ainda.

Espero que tais fatos sejam apurados com justiça, que cada grama do tecido possa ser identificada e retirada do mercado urgentemente. Mas espero principalmente, que os culpados – aqui e nos USA – sejam punidos de maneira exemplar.

Ao governo de Pernambuco, solicito a criação e coordenação de um comitê gestor para tratar desta crise, no sentido de zelar em primeiro lugar pela saúde das pessoas; e zelar também pela saúde empreendedora do polo de confecção, que é responsável por milhares de postos de trabalho no agreste pernambucano.
Valendo aqui a redundância: o dolo de um não pode nunca expor a saúde das pessoas e o meio ambiente a tal perigo, tampouco pode condenar a boa fé de milhares de trabalhadores que geram, de maneira honesta, o sustento de suas famílias através do polo de confecção de Pernambuco.





Por Bruno Bezerra

Diretor de desenvolvimento e empreendedorismo
da CDL de Santa Cruz do Capibaribe-PE.
Twitter: @brunobezerra

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